domingo, 1 de agosto de 2010

Uma noite em 67


Saudades daquilo que eu não vivi. É esta a sensação que dá ao assistir o documentário dirigido por Terra e Calil, que tem por essência justamente desmistificar o que foi aquela noite em 67. A abordagem deste filme é inusitada pelos depoimentos, tanto dos artistas que participaram, como dos organizadores deste evento; que nada mais foi do que um programa de televisão ao vivo, da Rede Record, que precisava dar certo. O festival contava com uma platéia enérgica que vaiava demais e aplaudia na mesma medida; e foi justamente ela que deu a vida que aquilo tudo merecia. Mas, o documentário não traz apenas os finalistas do festival se apresentando, mostra também os bastidores: as perguntas dos repórteres (bem perdidos, tentando entender o que estava acontecendo). Ressalto a entrevista de Caetano Veloso, onde ele responde sobre o que seria o Pop, é absolutamente inusitado alguém conceituar o que seria aquilo no presente com tanta lucidez. Bem, o filme revela bem isso tudo: eles estavam fazendo história sem se dar conta ao certo do impacto daquilo. Nem preciso dizer que dá vontade de cantar o tempo todo, pois aquelas músicas fazem parte da cultura brasileira (e não só) muito vividamente até hoje, mesmo que não tenham hoje o sentido que tiveram no passado. Uma abordagem muito pertinente sobre o tema foi a do esquecimento: Chico Buarque e Caetano não se lembraram ao certo das letras de Roda Viva e Alegria, Alegria e quase todos fazem questão de dizer que não gostaram de ficar caracterizados apenas por aquelas canções. No âmbito particular, é muito tocante ouvir deles a saudade da juventude, de serem mais bonitos e flexíveis. Apesar do documentário seguir a linha anti-saudosista, é impossível não ter vontade de ter estado lá. É bem compreensível que os artistas demonstrem não ter saudade daquela época, pois estavam sob regime militar e a maioria foi preso e exilado do país. Vou falar uma frase que é bem batida, mas retrata bem o porque de não termos mais composições (principalmente em termos de letra) como as daquela época: o sofrimento é necessário para a boa criação, ou seja o engajamento deles com a política e por tudo o que lhes aconteceu posteriormente impulsionaram a criação de letras muito profundas e de melodias inéditas. A acomodação (não gosto deste termo, mas não encontro outro melhor) de hoje não permite toda essa vontade do novo, infelizmente. Nos dias atuais, temos que nos contentar com American Idol e suas versões nacionais que nos fazem rir dos candidatos cantando músicas que foram compostas por estes maravilhosos compositores no passado, sem nada novo. Não podemos culpar os candidatos, mas talvez os organizadores poderiam ter mais criatividade, pois o show business atual tem muita capacidade para isso.
Bom essa resenha está mergulhada em "achismo" de uma pessoa que, como tantas outras, está acostumada a repetir o que lê e escuta por aí, por isso gostaria que vocês fossem assistir a Uma noite em 67 e comentassem aqui, de preferência discordando de mim.
fica a dica: reportagem da revista Bravo! sobre o documentário na edição de Agosto/10.

2 comentários:

  1. Como prometido, aqui estou. Como tive que recusar um convite tão incrível, de uma amiga tão especial, preciso me remir (adoro novas palavras, corre para o dicionário). Não tivemos o prazer de assistir Uma noite em 67 juntos (sim, aqui cabe uma piada de duplo sentido), mas tive o imenso prazer de ler mais um dos seus posts. E a cada palavra mais eu gosto, não apenas pelo fato de ficar (bem) informado de um filme que não vi, mas por me sentir (mais) próximo a você. É sempre uma satisfação ler a opinião de quem admiramos. E como o homem não vive apenas de palavras, fica meu enorme apoio (turca, não tenho quibe cru na mochila) para que continue nos surpreendendo. Grande beijo. Murilo Candelot.

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  2. Formidável o seu post! Poxa, não sobrou nada para eu falar...haha
    O filme é ótimo! Interessante e indispensável para os amantes ou não da música popular brasileira. Documenta um momento extremamente importante em nossa história, onde dentro de um show televisivo os artitas retratavam de maneira genial através das suas músicas e melodias a cultura brasileira em meio a todo aquele cenário político conturbado. E o melhor, todos esses "jovens artistas" da época são até hoje o que de melhor temos em nossa música.
    "Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar"...

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